quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Missionária Maria Célia del Valle


Durante a enchente que ocorreu no nordeste no ano passado, nós a convocamos e ela veio correndo, ou para ser mais exato voando. Naquele cenário caótico que afligiu várias cidades de Pernambuco e Alagoas a "Dra. Célia" se sentiu absolutamente a vontade (apesar do desconforto), motivada (apesar do desafio e enorme assolação).
Chegando na cidade de Barreiros - PE - uma das mais destruídas - Foi questionada por um oficial do exército, que atuava na coordenação da equipe de resgate e apoio as vítimas daquela tragédia:
- Qual a especialidade da doutora? - perguntou o oficial
- Pobre - respondeu ela sem pestanejar.
De fato tem sido assim o seu ministério e a sua caminhada. No sertão nordestino, entre os ribeirinhos... onde houver pobre, Maria Célia del Valle sempre está por perto, disponibilizando todo o seu conhecimento em clínica médica, acolhendo ao enfermo, prescrevendo medicamentos que ela mesma arrecada (usando o que ela chama de ministério de "pidão"). Fazendo discípulos, arrebanhando acadêmicos e profissionais da área da saúde que têm viajado em sua compainha; Pregando o Evangelho da maneira mais clara, pondo em prática a fé em Cristo, fato não muito comum em nossos dias, onde a igreja, geralmente, exagera em caras e bocas.
Ela é gente que faz, não tem arrodeios, sua objetividade e franqueza são impressionantes. Seu amor aos pobres nos remetem Aquele a quem ela serve e por quem ela vive - Jesus de Nazaré.

"O Espírito do Senhor é sobre mim. Pois, me ungiu para evangelizar aos pobres. Enviou-me a curar os quebrantados de coração.
A pregar liberdade aos cativos e restaurar vista aos cegos. A por em liberdade os oprimidos. A anunciar o ano aceitável do Senhor."


terça-feira, 21 de junho de 2011

DJALSON & ATEREDO

Na foto acima você vê dois irmãos, Djalson e Ateredo (da esquerda para a direita). Estes cabras têm mais quilometros pelo sertão do que o famigerado cangaceiro lampião.
Djalson é um portuário aposentado e Ateredo é um mecânico que se "aposenta" sempre que é convidado para ir ao sertão.
Ambos tem uma disposição e disponibilidade exemplar, não tem hora, não tem distância, não tem estrada ruim, não tem clima tempestuoso que os desestimulem, aliás, parece que quanto mais distante, quanto mais difícil o acesso, quanto maior a dificuldade aí é que estes manos se fazem presentes.
Eles têm sido importantes na efetividade das ações do sal da terra, mão estendida para tantos missionários que temos apoiado, companheiros de longas datas e além de evangelistas, são nossos "magaivers", consertam tudo. Exemplos de paciência e de calma em toda situação. Nunca se dão por vencidos.
É bom que se diga, raramente eles saem nas fotos, o trabalho deles é sempre de bastidores, não lhes confere status, não lhes dá notoriedade e nem projeção.
O que os motiva? É simples: Amor a obra de Deus.


quarta-feira, 9 de março de 2011

O Nosso "Sargentão"


Ele tem um estilo “sargentão”. Isso faz sentido se analisarmos apenas seu ímpeto em marchar à frente de sua tropa pelos quatro cantos do sertão. Admira, também, sua dedicação irrestrita à causa do nosso General. E desconheço quem tenha “gás” para agüentar seu ritmo (o homem é incansável!).

Seu nome de pia é profético, SEVERINO, o cabra de fato nasceu para servir, ser servo é a sua paixão.
Seu cognome sugere sua postura cristã, BILL CRENTE. Há quem duvide?
Um "sargentão" querido, doce, humilde e amado por todos nós, seus comandados.

Incapaz de maltratar qualquer um, exceto a sua Kombi, "tadinha!". Esta sim, sofre demais por não ter descanso.

Agradecemos a Deus por nosso "sargentão", somos privilegiados por tê-lo em nosso convívio.

Que Deus o guarde em suas abençoadoras idas e vindas.


Fotos Ali: Rede Mãos Dadas.

Damião e a Zabumba


Em Pernambuco, no Quarto Distrito Rural de Caruaru, numa feliz investida evangelística, Damião, um matuto morador daquelas bandas foi alcançado pelo amor de Deus. Um homem envolvido com os movimentos culturais de base, lá no Sítio Serrote dos Bois, zabumbeiro “marrudo”, “triangueiro” de marca maior, entregou sua vida a Jesus... Largou a "bebedice", o cigarro, a jogatina, a prostituição, “deu de mão para o pecado”, “passou pra lei de crente”, pela graça de Deus se tornou uma nova criatura. Mas, ainda na alegria do primeiro amor, teve uma notícia que o deixou sem jeito. Um religioso, “cheio de boas intenções” o advertiu:
- Damião, esqueça a zabumba e o triângulo. Daqui para frente você é um servo de Deus e Deus não gosta dessas coisas!
Damião engoliu seco. A notícia bateu no seu coração como uma paulada. De forma que a situação entristeceu aquele “cabra” recém-convertido. Porém, como todo bom matuto, o sujeito ficou desconfiado com a história...
- “Ôxente!” Onde é que tem isso na bíblia?
Perguntou Damião a si mesmo. Então, começou uma busca bereana, de Gênesis a Apocalipse, procurava diligente onde era que tinha na Bíblia que tocar zabumba era pecado. Procurou, procurou e nada... Não havia nenhuma referência no Livro Santo, do repúdio de Deus aos seus queridos instrumentos musicais. Damião, convertido, se convenceu:
- O irmão “tá” errado!
Concluiu categórico. E a partir daí começou a tentar convencer seus líderes a deixá-lo fluir na condição de músico regional. Tentou daqui, tentou dali até que conseguiu dobrá-los. Resultado: Hoje ele toca sua zabumba, num grupo que ele mesmo fundou, chamado Banda Sertão Cristão Nordestino, junto com outros forrozeiros convertidos. Evangelizando seus vizinhos do Quarto Distrito Rural de Caruaru e tantos outros conterrâneos, da imensa região brasileira chamada sertão nordestino.
De fato, Damião está com razão, tem fundamento as suas convicções, não há pecado em ser cristão contextual, mas onde começou toda esta história de que tocar zabumba e triângulo na igreja é pecado? Esta celeuma vem lá da origem da Igreja no Brasil. Muito embora seja inegável a importância que a igreja tem, ao longo da sua existência, como promotora de cultura, onde grandes pensadores, artistas, educadores, teólogos e tantos outros cristãos, têm contribuído com a cultura na qual estão ou estiveram inseridos. Particularmente, desde os nossos primeiros missionários, constatamos uma patente preocupação e zelo destes pioneiros evangelistas na instituição de estabelecimentos de ensino, que contribuíram, de forma profícua com o enriquecimento cultural de várias gerações (veja por exemplo, a criação dos colégios batistas e da escola Mackenzie). Por outro lado, boa parte destes mesmos pioneiros religiosos, rechaçou as manifestações culturais populares brasileiras, expressas por uma gama extraordinária de ritmos, folguedos, figurinos e tantos outros costumes e elementos que nos são peculiares (entre eles, por exemplo, o forró de Damião e sua zabumba). Como se estes homens, vindos de terras tão distantes, com tanta abnegação e obediência ao Pai, tivessem trazido na bagagem, além da Bíblia, a sua cultura. Sendo que a Bíblia eles pregaram com amor e a cultura eles impuseram com rigor.
Ainda hoje, em muitas comunidades cristãs, notamos o mesmo empenho e esforço na promoção da formação acadêmica da sociedade na qual estão inseridas, fato que é louvável, mas infelizmente, ao mesmo tempo, inapropriadamente, estas mesmas instituições criam barreiras enormes, verdadeiras cortinas de ferro nas suas portas, deixando do lado de fora toda riqueza da cultura popular brasileira, e não só isso, tentam desestimular a Eclésia a fomentar quaisquer tipo de produção cultural que aponte no sentido do que é nosso.
Talvez por zelo inadequado ou preconceito, a mensagem do Evangelho que rende tantos frutos, muitas vezes vem aliada, de maneira anacrônica, a exclusão de um culto contextual, moldado à nossa belíssima cultura. Somem-se a este fato, os esforços que são envidados em ensinos de falsos conceitos sobre o uso destes mesmos elementos fora do ambiente eclesiástico. Desaconselhando a igreja a não se envolver com “coisas” como a zabumba e o triângulo de Damião. De forma que, as mesmas pessoas que têm enriquecido a tantos com o ensino da graça redentora de Cristo e na formação acadêmica dos seus seguidores, atuam empobrecendo o meio em que vivem, pelo afastamento das nossas expressões culturais de raiz. Sucedendo que a mesma igreja que constrói grandes estabelecimentos de ensinos e belas catedrais, ao mesmo tempo moldou estas instituições à cultura estrangeira. (leia-se: principalmente, americana e européia).
Que grande desperdício! Um lamentável equívoco, que ainda hoje encontra seio, entre muitas igrejas históricas. Onde a definição do que é sacro e do que é profano, se confunde entre o que é americano e o que é brasileiro, entre o que é britânico e o que é tupiniquim, entre o que é popular e o que é erudito. E vai caminhando assim, patinando na lógica e na razão, se fechando radicalmente a tudo o que é próprio do nosso povo, com se a graça comum fosse incapaz de alcançar nossa querida nação brasileira, ou como se o dom criativo popular fosse propriedade do pecado, ou “coisa do capeta”, como se Deus fosse apenas, Deus para os eruditos.
Porém, como todo movimento reacionário incita uma manifestação contrária, esta “clausura cultural cristã”, parece ter suscitado, principalmente, entre os neo-pentecostais, uma nova comunidade disposta a quebrar paradigmas, a romper de vez com o tradicionalismo, que impôs limitações a produção cultural. Porém, esse contra-movimento, veio com tanto ímpeto que, em muitos casos, ultrapassou as raias do bom senso, caindo no outro extremo, fato que não é difícil se verificar. Veja quantas expressões culturais que conflitam com a Palavra de Deus têm sido corrente no nosso meio. Muitos dos “nossos” cultos, por exemplo, estão impregnados da cultura afro-religiosa, extrapolando todos os limites do sincretismo. É só ligar a televisão e o que se vê, na maioria das vezes, é um Pr. vestido de pai de santo promovendo sessões de descarrego, ou culto da rosa ungida, entre outros e outros descaminhos.
O uso inconseqüente da cultura popular tem dado uma contribuição significativa ao enfraquecimento do evangelho vivido atualmente na igreja brasileira. É onde zabumba de Damião pode se tornar nociva. Quando ela é tocada para fazer a moçada dançar forró. Quando de ferramenta a serviço do Reino, passa a ser um instrumento a serviço da indústria (riquíssima) do entretenimento gospel. A qualidade do que se canta, do que se dança e das peças teatrais, muitas vezes, tem se tornado questionável, pois a base bíblica das letras e dos textos empregados tem dado lugar, desnecessariamente, ao popularesco inócuo. Neste caso a igreja faz um desserviço à cultura e principalmente ao Evangelho.
Fazendo uma leitura rápida do Evangelho, de como Jesus se comportava diante da cultura que ele vivia, é notória a sua naturalidade a esse respeito. Ele era um cidadão comum, nem fugia dela, nem tão pouco a exaltava. Ele simplesmente vivia dentro do contexto cultural da época. Quando falava aos pescadores, suas narrativas eram dentro deste contexto cultural. Aos agricultores, suas parábolas eram sobre agricultura. Quando se dirigia aos religiosos Ele usava as Escrituras Sagradas com habilidade e conhecimento. Em meio aos doutores era um erudito que encantava desde a adolescência. Jesus cantava as músicas que todos cantavam, usava vestes iguais a que todos se vestiam, comia o que todos comiam, ia a festas como todo mundo ia... Um homem inserido no meio do povo, de tal forma que para que os que vieram prendê-lo pudesse o reconhecer, foi combinado um sinal, um beijo.
Que nós aprendamos com o Mestre, que não tenhamos medo da cultura a ponto de castrá-la, nem tão pouco a utilizemos a serviço do besteirol ou do mercado, fatos tão comuns atualmente. Há uma mensagem maravilhosa a ser pregada. Milhões e milhões de pessoas precisam saber das boas novas. Damião com sua zabumba tem usado este veio maravilhoso, tantos outros discípulos de Jesus têm trilhado nesta mesma direção e produzido com sucesso. Que a igreja possa utilizar com racionalidade de toda riqueza cultural que dispomos, para glorificar a Deus e fazê-lo conhecido entre as nações.